Com nariz de palhaço e de jalecos os médicos distribuíram cópias da Carta Aberta à População em frente ao Conselho Regional de Medicina (CRM-AP). Durante a manifestação pacífica, presidentes das sociedades de especialidades, estudantes de Medicina e médicos chegaram a fechar a Avenida Feliciano Coelho, no centro da capital. Durante o protesto cantaram o Hino Nacional e estenderam bandeiras do Brasil. Os profissionais utilizaram também caixas de som para protestar e falaram com a imprensa sobre suas reivindicações.

A manifestação faz parte de um movimento nacional das entidades médicas, que ocorreu em todo o Brasil nesta quarta-feira (03/07). O objetivo é defender o SUS, lutar por melhores condições de trabalho e de atendimento. A classe também defende que o Brasil não importe médicos, sem a revalidação de seus diplomas.

Para o presidente do Sindicato dos Médicos do Amapá (Sindmed), Dr. Fernando Nascimento a proposta do Governo Federal, de trazer profissionais do exterior sem aplicar um teste de conhecimento é um verdadeiro apartheid social. “Será a população mais pobre que vai ser atendida por esses médicos. Quem tem mais condições financeiras continuará recorrendo aos hospitais nos grandes centros. Não podemos deixar que os pacientes sejam submetidos a estes profissionais. Não sabemos sobre seus conhecimentos técnicos”, explica Nascimento.

De acordo com o presidente do CRM-AP, Dorimar Barbosa além da falta de condições de trabalho, a ausência de um plano de cargos dificulta a permanência dos médicos nos lugares mais afastados. “A solução seria criar um plano de cargos e salários, semelhante ao que ocorre no judiciário. Assim como há juízes e promotores no interior do estado, conseguiríamos manter médicos nos municípios do Amapá com uma carreira segura e bons salários. Além de oferecer condições de trabalho”, afirma Barbosa.

Ainda como parte da manifestação, médicos distribuíram cópias da Carta Aberta à População, elaborada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), Associação Médica Brasileira (AMB), Associação Nacional de Médicos Residentes (ANMR) e Federação Nacional dos Médicos. O CRM-AP também apresentou os resultados da fiscalização realizada na Unidade Mista de Saúde de Ferreira Gomes no fim de junho.

Um relatório sobre a vistoria será encaminhado para o Ministério Público Estadual e Federal, Secretaria de Saúde do Amapá, Vigilância Sanitária, Ministério do Trabalho e Conselho Estadual de Saúde. De acordo com a equipe de fiscalização, no local estão lotados apenas dois médicos, mas no momento da vistoria apenas um profissional prestava atendimento, pois o outro estava realizando curso fora da cidade. A sala de atendimento, além de abafada estava escura devido à falta de luz. A unidade tem gerador de energia, mas este não funciona há mais de 15 anos.

Os conselheiros constataram que há estrutura somente para realizar partos em período expulsivo (emergência), pois a mesa de parto não segue as normas do Ministério da Saúde (sendo inadequada). Nos casos de emergência os familiares têm que providenciar lençóis e alimentação, pois a Unidade de Nutrição e Dietética está sem condições de funcionamento pela falta de abastecimento.

O setor de lavanderia está desativado, pois as máquinas são muito antigas. O local que serviria para escoamento da água das máquinas está sendo ocupado pelos dejetos dos vasos sanitários existentes na unidade, sendo levados pra fossa e sumidouro. Com tal problema, o odor é forte, o que torna impossível a permanência no local.

Outro problema detectado pela fiscalização foi a falta equipamentos de proteção individual (EPI), como, capote, luvas, máscaras e óculos para a equipe de saúde realizar os procedimentos. A autoclave está com defeito. E a estufa que está sendo utilizada para esterilização dos equipamentos cirúrgicos, tem falha na borracha que veda a porta do aparelho, por isso a esterilização não está sendo eficiente, colocando a população exposta a infecções e outras doenças.
A fiscalização contatou ainda, que não há extintores, nos principais locais da unidade. Assim como não existe aviso de perigo próximo da casa de força, onde temos energia de alta tensão. Os conselheiros também identificaram que não há coleta seletiva de lixo hospitalar.

Perfil médico no Amapá – O CRM-AP tem 696 médicos inscritos. A maioria se concentra na capital. Mesmo assim, Macapá é a capital do país com menor número de profissionais. A cidade tem 1,38 médico para mil habitantes. O dado é do estudo Demografia Médica no Brasil – volume II. Uma produção do CFM e do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). De acordo este levantamento, o Amapá tem 0,95 médico para mil habitantes. Só fica na frente do Pará, que tem 0, 84 e do Maranhão, que possui 0,71.  

 O médico Fabiano Assunção faz parte desta pequena estatística de profissionais que se dedicam a trabalhar no interior do estado. Ele é o único médico que atende no município de Itaubal. Ele denuncia que é muito difícil de fazer Medicina na cidade. “Trabalhamos apenas com raciocínio lógico durante as consultas. Quase não temos suporte de laboratório, só podemos contar com exames de glicemia e malária. Isso dificulta fecharmos o diagnóstico”, lamenta.

As péssimas condições de trabalho, como a enfrentada por Fabiano Assunção, resultam no baixo número de profissionais apresentado pelo estudo. Em 2013, por exemplo, foram contratados quatro profissionais para o município de Amapá, mas apenas um permaneceu na cidade. Em Oipoque, que tem mais de 20 mil habitantes, apenas dois médicos realizam os atendimentos.

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